sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Doutor é quem tem Doutorado!

Doutor é quem tem Doutorado!

Godofredo, desde muito novo, é um entusiasta da tese de que “Doutor é quem tem doutorado”!

Durante os cincos longos ano da faculdade de Direito, Frêdo, como era tratado pelos mais íntimos, travou árduas batalhas com os colegas que, ao contrário dele, falavam que o tratamento de “Dr.” é apenas uma convenção sem grande importância pra humanidade. Godofredo, porém, sempre foi duro na queda.

O sonho dele sempre foi defender essa tese perante um Juiz, em audiência. Durante muitas aulas de processo, vários foram os momentos que Godofredo perdeu-se em pensamentos imaginando o auge desse grande dia!

Eis que o tempo passou, e é chegado o grande momento...

Godofredo, agora Dr. Advogado, ops, digo, bacharel inscrito na Ordem, chega até a sala de audiência e toma o seu lugar. Trata-se de audiência trabalhista. O Magistrado, feito o pregão e lido o relatório, pergunta:

- Doutores, há possibilidade de acordo?
Antes de qualquer manifestação, Godofredo realiza-se:

- Excelência, pela ordem! Doutor é pra quem tem doutorado! Faço requerimento no sentido de que nem eu nem meu colega, defensor da parte contrária, sejamos tratados de tal forma.

O juiz, meio que sem acreditar no que escuta, indefere o requerimento sem mais delongas.

- Que sejam registrados os meus protestos! Godofredo esbraveja.

A audiência foi longa e testou a paciência de todos os presentes. Foram registrados inúmeros protestos realizados por Godofredo, todos pelo mesmo motivo: “Doutor é quem tem doutorado!”.

Godofredo ainda tentou defender sua tese em mais algumas outras audiências, nas mais diversas searas do Judiciário, mas seu esforço foi em vão. Arrumou mais confusão do que amigos no meio. Até os clientes começaram o fugir. É então que ele tem a ideia de fundar a ONG “Doutor é quem tem doutorado”, a DEQTD.

Hoje, Godofredo divide seu tempo entre várias palestras proferidas para adeptos da tese e andanças pelos corredores do Congresso Nacional. Ele montou todo um pré-projeto que defende que seja proibido designar de “Doutor” qualquer pessoa que não possua Doutorado. Busca incansavelmente o apoio dos Deputados e Senadores.

O grande Godofredo é, ainda, entusiasta de mais uma ONG, a MEQTM – “Mestre é quem tem Mestrado”. Depois dessa genial ideia do Godofredo, os torneios de xadrez e campeonatos de arte marciais nunca mais foram os mesmos...

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Abaixo a urna eletrônica já!

Abaixo a urna eletrônica já!

A urna eletrônica é uma das maiores sacanagens políticas já inventadas. Tudo bem que tornou mais célere todo o procedimento de votação e apuração. Também, dizem uns, ante a desconfiança de outros, proporcionou maior segurança às eleições. Porém, a bendita urna eletrônica matou os direitos naturais de livre expressão e de protesto, que eram assegurados ao eleitor naquela época em que o voto registrado numa cédula, e depositado numa espécie de sacola por meio de uma estreita abertura, era o meio de escolher os “representantes do povo” que atuariam nas casas legislativas da vida e quais os (des) governantes que tomariam as rédeas desse Brasil de meu Deus.

Não cheguei a usufruir do privilégio de fazer uso do voto manual. Já sou da época dos computadores e debutei como eleitor ouvindo o barulhinho da urna eletrônica quando da confirmação do voto; que, diga-se de passagem, lembra uma risada irônica a entoar que política no Brasil não é lá coisa muito séria. Mas, na memória guardo algumas histórias, contadas pelos mais velhos, que dão conta de várias formas de protesto proporcionadas pelo uso da cédula na votação, que iam desde desenhos de partes íntimas em generosa proporção, passando pela criação de candidatos fictícios e chegando à “eleição” de figuras folclóricas, tipo o macaco Tião, quase “eleito” prefeito da cidade do Rio de Janeiro em pleito ocorrido no fim dos anos 80.
Num Estado pobre como o meu Rio Grande do Norte, por exemplo, que nas eleições de 2014 a população terá como opções principais de voto para dirigir o Estado – de certo modo, diante do poderio econômico, quase que únicas opções - dois políticos profissionais que há tempos estão envolvidos no mundo da política, sendo que até hoje muito pouco fizeram pelo povo, mas muito “conquistaram” pra eles e para os deles, seria bacana ter pelo menos o direito de deixar registrado na cédula eleitoral um belo protesto por conta de toda essa pilantragem reinante há tempos nas terras potiguares.

Já em âmbito nacional, que tem quadro parecido com o RN no que tange às opções de voto, quem sabe o eleitor poderia aproveitar o clima de copa e “eleger” o David Luiz para presidente, em homenagem a garra demonstrada por ele. O craque alemão Bastian Schweinsteiger (pesquisei no Google) seria boa opção para pelo menos sacanear quem tivesse de ler o voto quando da apuração. Ou quem sabe não ocorreria um surto cívico, tal como o narrado por José Saramago em Ensaio sobre a lucidez, e considerável parte da população resolvesse anular o voto, e nesse caso escrevesse na cédula de votação um generoso “vão à m...”, demonstrando assim que ninguém tem mais paciência pra aturar esse espetáculo ridículo que é a política brasileira.


Não, o intuito não é desdenhar da urna eletrônica. Mesmo em face da desconfiança vez por outra lançada sobre sua confiabilidade, reconhece-se que a urna eletrônica foi uma grande invenção, sem dúvidas. Mas diante da falta de seriedade dominante na política brasileira, com o devido respeito aos que pensam o contrário, ela deveria ser aposentada. Um instrumento como esse só tem espaço numa democracia séria, que tenha políticos e eleitores, em sua maioria, sérios. No atual quadro, onde reinam os políticos corruptos, os partidos de aluguel e boa parte dos eleitores são irresponsáveis, deve prevalecer o direito de livre expressão e protesto. Pelo direito de “eleger” os macacos Tião da vida, abaixo a urna eletrônica já!