O político e o menino
Minha
memória tem me traído. Não sei se é coisa da idade, mas, vez ou outra, é preciso
considerável esforço pra lembrar o nome de conhecidos, tarefas do dia a dia e uma
ou outra coisa do tipo. Já andei esquecendo até o carro na porta do banco e fui
trabalhar de táxi. Pois é... Porém, mesmo sofrendo com o adultério corriqueiro de
minha memória, vez por outra também me pego tendo alguns lampejos saudosistas. Coisas
boas e de um tempo bom...
Com
o presente clima de eleição, dia como esse, faz pouco, me peguei revivendo a
campanha eleitoral de 1992. Naquele ano, advoguei para alguns partidos em
alguns municípios do RN. Em especial, vagamente tenho rememorado o trabalho
realizado em Governador Dix-sept Rosado para candidatura de um senhor que neste
momento minha memória não ajuda a lembrar-me de seu nome. Recordo-me apenas que
compartilhávamos da mesma paixão flamenguista.
Se
não me falha a memória, foi um trabalho difícil. Uma campanha apertada e cheia
de confusões. Mas o povo daquela terra queria libertar-se das amarras da
“ditadura” vigente e foi lá e promoveu uma mudança. Uma mudança de verdade,
faz-se necessário esclarecer. E Foi certamente uma das mais belas campanhas já
vistas, na qual as ruas várias e várias vezes foram tomadas de esperança. E era
tamanha a esperança e de cor tão intensa que se hoje falassem que ela ressecou
e perdeu seu brilho eu demoraria a acreditar.
Daquele
senhor lembro-me da garra e da coragem. Mesmo esguio e de aparência que parecia
frágil, ele tinha força de um gigante. Dia desses, soube por ouvir dizer, que entrou
pobre e saiu pobre da prefeitura, coisa hoje em dia tão comum quanto ver um
elefante desfilando num jipe por aí. Pelo que falam, se ele não fez o trabalho perfeito,
já que a imperfeição é inerente à condição humana, porém deixou pronto o
caminho a ser seguido.
Se
não é criação da minha memória tentando me pregar uma peça, recordo-me também
da figura de um garotinho esticado e cabeçudo, de tenra idade, que numa das
andanças lançou mão de uma música para campanha. Uma composição que não rimava
lê com crê, e que obviamente não foi usada, mas que claramente denotava uma
pureza infantil e deixava evidente o quanto aquela figura mirim estava
fraternamente ligada a tudo que ocorria.
Não
tenho mais contato com aquele senhor, infelizmente. Resta-me, vez por outra,
fazer as pazes com a memória e reviver os bons momentos que dividi com ele. A
única certeza que tenho é que, pelo tamanho do coração que aquele senhor
possuía, hoje deve encontrar-se num lugar especial. Já quanto ao garoto
esticado e cabeçudo, se não for minha memória querendo me pregar uma peça, tem
dias que tenho a impressão de cruzar com ele por aí.
Autor:
Dr. Aldareci Silva - Advogado