sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

DIÁRIO NÃO OFICIAL DO MUNICÍPIO - EDIÇÃO 002 (20/01/2017)

“Mais verdadeiro que promessa de político em ano de eleição.”

Nobre diário,

Aproximam-se as eleições. Aqui, o clima já é de disputa acirrada e nos bastidores a coisa pega fogo. Quer dizer, nem é assim um incêndio de grandes proporções, quando comparado com os corriqueiros bate-bocas entre os partidários da Prefeita e os da oposição.

Pelos quatro cantos do Município, tem sido comum encontrar verdes (que estão na prefeitura) e vermelhos – para distingui-los pela cor de seus grupos partidários – realizando troca de “delicadezas e gentilezas”, tipo quando esposa e amante se conhecem por descuido do caba metido a namorador.

Claro que a disputa toda e a rivalidade ferrenha são motivadas, unicamente, pelo nobre sentimento de mostrar quem realmente merece ficar com as chaves da prefeitura nos próximos quatros anos e fazer o melhor pelo povo; principalmente aquele povo mais chegado a nós, confessam os mais afoitos.

O bom é que em ano de eleição a Difusora local (uns dizem ser pura gaiatice e já outros falam em sabedoria publicitária) disponibiliza uma caixa de correio, disposta no muro traseiro da rádio numa posição estratégica para garantir o anonimato do remetente, para o cidadão deixar seu recado político, seja ele direcionado a adversário ou mesmo a correligionário, a ser lido nos intervalos da programação diária.

Dia desses, foi lido o seguinte recado anônimo:

“Dona Julieta, da rua das bromélias... A madame tá pensando que vai passar o resto da vida vendendo essas vassouras feitas de palha podre para prefeitura a preço de ouro? Rá, rá, rá... A boquinha vai acabar, bicha babona. Muié, tu baba tanto a Prefeita, que até o seu xibiu já deve tá verde. Tenha vergonha!”.

Dona Julieta, que não é de se rebaixar e nem muito menos de engolir desaforo calada, pediu um espaço na rádio, no dia do programa de maior audiência, e foi sucinta:

“Desocupado ou desocupada, tu quer é a boquinha pra você. E outra coisa, verde meu xibiu ainda num é, mas vou pintar e mostrar pra quem quiser ver, no dia do comício da vitória”.

Não se sabe se foi uma jogada para ganhar votos, mas a expectativa na cidade é grande após tal promessa, pois é de conhecimento científico que babão que se preze é capaz de tudo para demonstrar amor por seu partido ou candidato.

Já a atual prefeita também tem demonstrado preocupação com campanha de reeleição e, pensando nisso, mandou um polêmico projeto para Câmara Municipal. Ela, integrante de uma tradicional família política que comanda vários Municípios da região faz vinte anos, acabou de chegar da Europa, onde esteve, segundo sua assessoria, tratando de acordos comerciais com a União Europeia, e trouxe na mala a ideia central de referido projeto.

No caso, a engenhosa ideia formulada pela comandante do executivo local nada mais é do que o adiantamento dos royalties da exploração das fezes dos bovinos locais, produto que tem sido exportado por uma multinacional chinesa do ramo de cosméticos, desde a descoberta de que sua adição ao processo de produção de cremes de beleza resulta num produto de excelente qualidade.

O fato é que a Câmara de Vereadores, que por essas bandas todo prefeito que se preze manda e desmanda, recebeu o projeto na parte da manhã e no mesmo dia, antes da hora da coalhada - conforme se vangloriou o Presidente da Casa em animada confissão a Prefeita - já deu tudo por acabado e aprovado, não sem antes, claro, do registro de belos discursos por parte de todos os vereadores, reconhecedores da importância do projeto.

Teve quem afirmasse (os maldosos, sempre eles) ser tal antecipação de tanto dinheiro apenas um meio para a realização de “banho de loja” na cidade antes das eleições, no intuito de enganar os bestas… Enfim, a verdade é que bastou a aprovação do projeto e o Município, carente de uma mão de cal já tinha um bom tempo, transformou-se num canteiro de “obras”; Já o diário oficial passou a anunciar licitação atrás de licitação, com todo tipo de aquisição de bens e contratação de serviços.

Nisso, licitaram a compra de um farelo especial para alimentação da burrinha oficial da prefeitura, que nem mesmo a cavalaria da Rainha da Inglaterra já teve o prazer de conhecê-lo, de tão nobre o produto. O problema foi o valor gasto na compra ter chamado tanto a atenção, que a oposição cantou a bola para o promotor da cidade e daí formou-se uma confusão que só Deus sabe como vai acabar.

Numa manhã dessas aí, de surpresa, chegou o promotor ao depósito oficial da prefeitura e, de posse de ordem da juíza da cidade, requereu a entrega de toda a carga do farelo especial. A prefeita, chamada as pressas para resolver a questão, junto com um mói de secretário, sem encontrar melhor explicação, jurou de pés juntos que o produto, de tão bom, foi consumido de uma lapada só pela burrinha do município.

O problema foi convencer o promotor que apenas uma burrinha, tão desnutrida, é capaz de comer, em tão pouco tempo, cinquenta e cinco sacas de um produto comprado ao preço de dois mil reais cada. Desconfiado, o promotor mandou prender a burrinha e convocou um perito da Universidade Rural, pós-doutor em composição química das fezes do jumento sertanejo, no intuito de atestar se o desnutrido animal alimentou-se de algo além do capim ralo do estábulo da secretaria de obras do Município.

Aqui é preciso ser honesto e explicar que a história toda virou um rebuliço na cidade, na verdade, nem tanto pela questão financeira ou política da causa, mas, sim, pelo fato de ter surgido um burburinho no sentido de o procedimento pelo qual passaria a pobre burrinha ser tão complexo e delicado que, inevitavelmente, causaria a morte do animal e sua carne seria servida num churrasco promovido pelo promotor que, supostamente, tal qual o colega de MP no RN, é adepto da teoria da utilização da carne de jumento na merenda escolar.

O xis da questão é o fato de que todos os dias, a urina da burrinha oficial da prefeitura é recolhida e enviada para a farmácia do município, pois serve de alívio para um delicado problema que afeta parte da população masculina do Município…

Já faz certo tempo, um grupo de ciganos estava de passagem pela cidade e a noiva do cigano chefe acabou se envolvendo com um local. Revelada a situação, os ciganos partiram da cidade com a promessa de nunca mais aqui pisar e ainda praguejaram que todo aquele homem nascido na localidade sofreria de uma incessante coceira nas partes íntimas, toda primeira lua cheia do mês.

Como a praga pegou e nada da medicina cientifica conseguia aliviar os seus efeitos, de tudo foi tentado para amenizar os estragos da primeira lua cheia do mês na ala masculina. Até que num bendito dia, um antigo funcionário da prefeitura, Seu Manoel do Sítio Juá, descobriu, não se sabe como, apesar de pairar certa desconfiança, que a urina de uma jumentinha (aquela já apresentada é neta da primeira salvadora da pátria) era um santo remédio para causa; Nisso, o animal passou a ser patrimônio do Município e o descobridor do “milagre” o seu tratador oficial.

Para resumir o episódio, o ápice da confusão se deu quando o perito da Universidade Rural chegou para fazer a perícia solicitada pelo promotor, que nada mais era que colher as fezes do animal para análise, e não encontraram a burrinha…

A questão é que Manoelzinho - filho do já falecido Seu Manoel e substituto do pai na função de tratador da burrinha oficial da prefeitura - ficou sabendo do burburinho acerca da morte do animal e, por isso, resolveu fugir com a pobre burrinha, deixando um bilhete no qual confessa que é apaixonado por ela e tem certeza que é correspondido. Ele finaliza o bilhete dizendo: “Na minha princesa ninguém toca, nem doutor e nem promotor”.

A confusão tá grande.

DIÁRIO NÃO OFICIAL DO MUNICÍPIO – DISPONIBILIZADO NAS SEXTAS-FEIRAS OU EM EDIÇÕES ESPEIAIS.


Essa é uma publicação fictícia. Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência… Às vezes, não. 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

DIÁRIO NÃO OFICIAL DO MUNICÍPIO – EDIÇÃO 001 (Dia 13/01/2017)

“Mais verdadeiro que promessa de político em ano de eleição.”

Querido diário...

Ando meio cansado. O passar dos anos, que parece mais rápido dia após dia, e os desapontamentos com a politicagem praticada por alguns cidadãos da minha terra andam fazendo sentir-me um velho acabado.

Não bastasse isso, diariamente tenho me sujeitado a um silêncio agoniante, sendo que não me faltam histórias para contar. E, fique logo sabendo, não é por falta de meios para divulgação dos acontecimentos, pois até tenho outro diário, o Oficial.

Mas a verdade, meu amigo, é que o tal Oficial é de uma chatice medonha e serve apenas para divulgar burocracia. O que se passa de interessante por aqui, a realidade dos bastidores do poder municipal ou mesmo o dia a dia da cidade, nada disso sai naquelas páginas. E por lá, não posso negar, vez ou outra, publicam até algumas coisas que me envergonham...

Pois fique você sabendo que foi toda essa situação chata a motivação para a sua criação. Se no espaço considerado oficial não é divulgada a realidade, só resta a opção de realizar esse feito num meio não oficial. Assim, vamos nós aqui conversando devagarzinho, registrando apenas a verdade do que se passa de interessante nessas bandas e quem sabe, um dia, o Oficial segue o mesmo caminho, não é mesmo?

Deixe eu me apresentar...

Sou um pequeno Município, apesar de grande, situado cá pras bandas do sertão nordestino. Sou terra de gente boa, e também de alguma gente sem futuro, é verdade. Ainda tenho muitas estradas de terra batida; E já tenho alguns metros de asfalto, que me cortam de ponta a ponta, levando e trazendo riquezas e, inevitavelmente, também tristezas.

Ali mais pra baixo fica minha igrejinha, sob a guarda do meu padroeiro. Levantada na base do suor de alguns, é lá que se reúne parte dos conterrâneos em momentos de fé e alegria e, também, naqueles dias de dor. Lá meu povo se une de verdade, mesmo que de tempos em tempos. Mas é verdade também que, vez ou outra, lá é ambiente de gente que é muito santa, até descer à calçada...

Acolá mais pra cima tem o mercado público, lugar daquele meu povo que madruga na batalha diária. É lá onde muitos derramam o suor pra manter a família, diariamente. É também o metro quadrado mais disputado do município, em tempos de eleição; Momento no qual, por lá, não falta candidato e babão abraçando o povo e fazendo festa, feito mosquito em bunda de cachorro...

Bem ali, na frente do mercado, fica a pracinha principal da cidade. É o local dos primeiros flertes da maior parte dos casais formados na cidade. Por lá, tudo começa com a troca de olhares entre os rapazes e as moças, enquanto eles arrodeiam a praça, em noites do fim de semana. Tem quem fale (os mais maldosos) que, nas altas horas da madrugada, os bancos mais reservados da praça não são espaços lá de muita inocência...

Já naquele banco da praça tá o rapaz-solteiro mais velho da cidade, que tem mania de falar sozinho e, vez ou outra, recebe audiência daquele vira-lata que tá do lado dele, o buiu. Dizem que o pobre coitado fez jura de não querer mais mulher nenhuma, depois de um amor não correspondido. Já o cachorro é o terror dos casais da cidade, pois ele, de tanto ouvir o relato da desilusão amorosa do solteirão, desenvolveu a capacidade de descobrir, pelo rastro, o povo que anda pulando cerca por aí...

E por falar na sabedoria de buiu, numa coisa que essa terra é rica é em animal diferente. Aqui, tem um jumento sem dono e criado solto pela cidade, que corre atrás de donzela após identifica-las pelo cheiro; A quem diga (os maldosos, sempre eles) que o bichinho anda meio sedentário. Tem também, lá pras banda de cima, um bode que berra a hora certa quando o dono aperta o saco do pobre caprino; E tem um galo que só canta em dias pares, sem fazer confusão de data, nem mesmo quando o ano é bissexto.

Mas voltando para cidade, e deixando as histórias curiosas dos animais dessa terra para outra oportunidade, por acolá tem a farmácia, ali fica a padaria, já mais na frente tem o armazém mais surtido dessas bandas. Para aquele lado tá os Correios, bem ali a delegacia e, como não poderia de ser, bem ali, mais afastado, fica o bordel da cidade, comandado por Juju do Deputado, que merece uma edição especial do diário somente para contar o motivo do apelido.
   
Meu querido diário, é aquela coisa, mesmo sendo um lugar pequeno, de tudo um pouco encontramos por aqui, principalmente boas histórias para contar. E causos dos bastidores do poder, nem se fala, existem relatos para todos os gostos.  Aliás, quem sabe na próxima edição eu não conte uma das boas dos bastidores...

DIÁRIO NÃO OFICIAL DO MUNICÍPIO – DISPONIBILIZADO NAS SEXTAS-FEIRAS OU EM EDIÇÕES ESPECIAIS.

Essa é uma publicação fictícia. Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência... Às vezes, não.