sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

DIÁRIO NÃO OFICIAL DO MUNICÍPIO - EDIÇÃO 002 (20/01/2017)

“Mais verdadeiro que promessa de político em ano de eleição.”

Nobre diário,

Aproximam-se as eleições. Aqui, o clima já é de disputa acirrada e nos bastidores a coisa pega fogo. Quer dizer, nem é assim um incêndio de grandes proporções, quando comparado com os corriqueiros bate-bocas entre os partidários da Prefeita e os da oposição.

Pelos quatro cantos do Município, tem sido comum encontrar verdes (que estão na prefeitura) e vermelhos – para distingui-los pela cor de seus grupos partidários – realizando troca de “delicadezas e gentilezas”, tipo quando esposa e amante se conhecem por descuido do caba metido a namorador.

Claro que a disputa toda e a rivalidade ferrenha são motivadas, unicamente, pelo nobre sentimento de mostrar quem realmente merece ficar com as chaves da prefeitura nos próximos quatros anos e fazer o melhor pelo povo; principalmente aquele povo mais chegado a nós, confessam os mais afoitos.

O bom é que em ano de eleição a Difusora local (uns dizem ser pura gaiatice e já outros falam em sabedoria publicitária) disponibiliza uma caixa de correio, disposta no muro traseiro da rádio numa posição estratégica para garantir o anonimato do remetente, para o cidadão deixar seu recado político, seja ele direcionado a adversário ou mesmo a correligionário, a ser lido nos intervalos da programação diária.

Dia desses, foi lido o seguinte recado anônimo:

“Dona Julieta, da rua das bromélias... A madame tá pensando que vai passar o resto da vida vendendo essas vassouras feitas de palha podre para prefeitura a preço de ouro? Rá, rá, rá... A boquinha vai acabar, bicha babona. Muié, tu baba tanto a Prefeita, que até o seu xibiu já deve tá verde. Tenha vergonha!”.

Dona Julieta, que não é de se rebaixar e nem muito menos de engolir desaforo calada, pediu um espaço na rádio, no dia do programa de maior audiência, e foi sucinta:

“Desocupado ou desocupada, tu quer é a boquinha pra você. E outra coisa, verde meu xibiu ainda num é, mas vou pintar e mostrar pra quem quiser ver, no dia do comício da vitória”.

Não se sabe se foi uma jogada para ganhar votos, mas a expectativa na cidade é grande após tal promessa, pois é de conhecimento científico que babão que se preze é capaz de tudo para demonstrar amor por seu partido ou candidato.

Já a atual prefeita também tem demonstrado preocupação com campanha de reeleição e, pensando nisso, mandou um polêmico projeto para Câmara Municipal. Ela, integrante de uma tradicional família política que comanda vários Municípios da região faz vinte anos, acabou de chegar da Europa, onde esteve, segundo sua assessoria, tratando de acordos comerciais com a União Europeia, e trouxe na mala a ideia central de referido projeto.

No caso, a engenhosa ideia formulada pela comandante do executivo local nada mais é do que o adiantamento dos royalties da exploração das fezes dos bovinos locais, produto que tem sido exportado por uma multinacional chinesa do ramo de cosméticos, desde a descoberta de que sua adição ao processo de produção de cremes de beleza resulta num produto de excelente qualidade.

O fato é que a Câmara de Vereadores, que por essas bandas todo prefeito que se preze manda e desmanda, recebeu o projeto na parte da manhã e no mesmo dia, antes da hora da coalhada - conforme se vangloriou o Presidente da Casa em animada confissão a Prefeita - já deu tudo por acabado e aprovado, não sem antes, claro, do registro de belos discursos por parte de todos os vereadores, reconhecedores da importância do projeto.

Teve quem afirmasse (os maldosos, sempre eles) ser tal antecipação de tanto dinheiro apenas um meio para a realização de “banho de loja” na cidade antes das eleições, no intuito de enganar os bestas… Enfim, a verdade é que bastou a aprovação do projeto e o Município, carente de uma mão de cal já tinha um bom tempo, transformou-se num canteiro de “obras”; Já o diário oficial passou a anunciar licitação atrás de licitação, com todo tipo de aquisição de bens e contratação de serviços.

Nisso, licitaram a compra de um farelo especial para alimentação da burrinha oficial da prefeitura, que nem mesmo a cavalaria da Rainha da Inglaterra já teve o prazer de conhecê-lo, de tão nobre o produto. O problema foi o valor gasto na compra ter chamado tanto a atenção, que a oposição cantou a bola para o promotor da cidade e daí formou-se uma confusão que só Deus sabe como vai acabar.

Numa manhã dessas aí, de surpresa, chegou o promotor ao depósito oficial da prefeitura e, de posse de ordem da juíza da cidade, requereu a entrega de toda a carga do farelo especial. A prefeita, chamada as pressas para resolver a questão, junto com um mói de secretário, sem encontrar melhor explicação, jurou de pés juntos que o produto, de tão bom, foi consumido de uma lapada só pela burrinha do município.

O problema foi convencer o promotor que apenas uma burrinha, tão desnutrida, é capaz de comer, em tão pouco tempo, cinquenta e cinco sacas de um produto comprado ao preço de dois mil reais cada. Desconfiado, o promotor mandou prender a burrinha e convocou um perito da Universidade Rural, pós-doutor em composição química das fezes do jumento sertanejo, no intuito de atestar se o desnutrido animal alimentou-se de algo além do capim ralo do estábulo da secretaria de obras do Município.

Aqui é preciso ser honesto e explicar que a história toda virou um rebuliço na cidade, na verdade, nem tanto pela questão financeira ou política da causa, mas, sim, pelo fato de ter surgido um burburinho no sentido de o procedimento pelo qual passaria a pobre burrinha ser tão complexo e delicado que, inevitavelmente, causaria a morte do animal e sua carne seria servida num churrasco promovido pelo promotor que, supostamente, tal qual o colega de MP no RN, é adepto da teoria da utilização da carne de jumento na merenda escolar.

O xis da questão é o fato de que todos os dias, a urina da burrinha oficial da prefeitura é recolhida e enviada para a farmácia do município, pois serve de alívio para um delicado problema que afeta parte da população masculina do Município…

Já faz certo tempo, um grupo de ciganos estava de passagem pela cidade e a noiva do cigano chefe acabou se envolvendo com um local. Revelada a situação, os ciganos partiram da cidade com a promessa de nunca mais aqui pisar e ainda praguejaram que todo aquele homem nascido na localidade sofreria de uma incessante coceira nas partes íntimas, toda primeira lua cheia do mês.

Como a praga pegou e nada da medicina cientifica conseguia aliviar os seus efeitos, de tudo foi tentado para amenizar os estragos da primeira lua cheia do mês na ala masculina. Até que num bendito dia, um antigo funcionário da prefeitura, Seu Manoel do Sítio Juá, descobriu, não se sabe como, apesar de pairar certa desconfiança, que a urina de uma jumentinha (aquela já apresentada é neta da primeira salvadora da pátria) era um santo remédio para causa; Nisso, o animal passou a ser patrimônio do Município e o descobridor do “milagre” o seu tratador oficial.

Para resumir o episódio, o ápice da confusão se deu quando o perito da Universidade Rural chegou para fazer a perícia solicitada pelo promotor, que nada mais era que colher as fezes do animal para análise, e não encontraram a burrinha…

A questão é que Manoelzinho - filho do já falecido Seu Manoel e substituto do pai na função de tratador da burrinha oficial da prefeitura - ficou sabendo do burburinho acerca da morte do animal e, por isso, resolveu fugir com a pobre burrinha, deixando um bilhete no qual confessa que é apaixonado por ela e tem certeza que é correspondido. Ele finaliza o bilhete dizendo: “Na minha princesa ninguém toca, nem doutor e nem promotor”.

A confusão tá grande.

DIÁRIO NÃO OFICIAL DO MUNICÍPIO – DISPONIBILIZADO NAS SEXTAS-FEIRAS OU EM EDIÇÕES ESPEIAIS.


Essa é uma publicação fictícia. Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência… Às vezes, não. 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

DIÁRIO NÃO OFICIAL DO MUNICÍPIO – EDIÇÃO 001 (Dia 13/01/2017)

“Mais verdadeiro que promessa de político em ano de eleição.”

Querido diário...

Ando meio cansado. O passar dos anos, que parece mais rápido dia após dia, e os desapontamentos com a politicagem praticada por alguns cidadãos da minha terra andam fazendo sentir-me um velho acabado.

Não bastasse isso, diariamente tenho me sujeitado a um silêncio agoniante, sendo que não me faltam histórias para contar. E, fique logo sabendo, não é por falta de meios para divulgação dos acontecimentos, pois até tenho outro diário, o Oficial.

Mas a verdade, meu amigo, é que o tal Oficial é de uma chatice medonha e serve apenas para divulgar burocracia. O que se passa de interessante por aqui, a realidade dos bastidores do poder municipal ou mesmo o dia a dia da cidade, nada disso sai naquelas páginas. E por lá, não posso negar, vez ou outra, publicam até algumas coisas que me envergonham...

Pois fique você sabendo que foi toda essa situação chata a motivação para a sua criação. Se no espaço considerado oficial não é divulgada a realidade, só resta a opção de realizar esse feito num meio não oficial. Assim, vamos nós aqui conversando devagarzinho, registrando apenas a verdade do que se passa de interessante nessas bandas e quem sabe, um dia, o Oficial segue o mesmo caminho, não é mesmo?

Deixe eu me apresentar...

Sou um pequeno Município, apesar de grande, situado cá pras bandas do sertão nordestino. Sou terra de gente boa, e também de alguma gente sem futuro, é verdade. Ainda tenho muitas estradas de terra batida; E já tenho alguns metros de asfalto, que me cortam de ponta a ponta, levando e trazendo riquezas e, inevitavelmente, também tristezas.

Ali mais pra baixo fica minha igrejinha, sob a guarda do meu padroeiro. Levantada na base do suor de alguns, é lá que se reúne parte dos conterrâneos em momentos de fé e alegria e, também, naqueles dias de dor. Lá meu povo se une de verdade, mesmo que de tempos em tempos. Mas é verdade também que, vez ou outra, lá é ambiente de gente que é muito santa, até descer à calçada...

Acolá mais pra cima tem o mercado público, lugar daquele meu povo que madruga na batalha diária. É lá onde muitos derramam o suor pra manter a família, diariamente. É também o metro quadrado mais disputado do município, em tempos de eleição; Momento no qual, por lá, não falta candidato e babão abraçando o povo e fazendo festa, feito mosquito em bunda de cachorro...

Bem ali, na frente do mercado, fica a pracinha principal da cidade. É o local dos primeiros flertes da maior parte dos casais formados na cidade. Por lá, tudo começa com a troca de olhares entre os rapazes e as moças, enquanto eles arrodeiam a praça, em noites do fim de semana. Tem quem fale (os mais maldosos) que, nas altas horas da madrugada, os bancos mais reservados da praça não são espaços lá de muita inocência...

Já naquele banco da praça tá o rapaz-solteiro mais velho da cidade, que tem mania de falar sozinho e, vez ou outra, recebe audiência daquele vira-lata que tá do lado dele, o buiu. Dizem que o pobre coitado fez jura de não querer mais mulher nenhuma, depois de um amor não correspondido. Já o cachorro é o terror dos casais da cidade, pois ele, de tanto ouvir o relato da desilusão amorosa do solteirão, desenvolveu a capacidade de descobrir, pelo rastro, o povo que anda pulando cerca por aí...

E por falar na sabedoria de buiu, numa coisa que essa terra é rica é em animal diferente. Aqui, tem um jumento sem dono e criado solto pela cidade, que corre atrás de donzela após identifica-las pelo cheiro; A quem diga (os maldosos, sempre eles) que o bichinho anda meio sedentário. Tem também, lá pras banda de cima, um bode que berra a hora certa quando o dono aperta o saco do pobre caprino; E tem um galo que só canta em dias pares, sem fazer confusão de data, nem mesmo quando o ano é bissexto.

Mas voltando para cidade, e deixando as histórias curiosas dos animais dessa terra para outra oportunidade, por acolá tem a farmácia, ali fica a padaria, já mais na frente tem o armazém mais surtido dessas bandas. Para aquele lado tá os Correios, bem ali a delegacia e, como não poderia de ser, bem ali, mais afastado, fica o bordel da cidade, comandado por Juju do Deputado, que merece uma edição especial do diário somente para contar o motivo do apelido.
   
Meu querido diário, é aquela coisa, mesmo sendo um lugar pequeno, de tudo um pouco encontramos por aqui, principalmente boas histórias para contar. E causos dos bastidores do poder, nem se fala, existem relatos para todos os gostos.  Aliás, quem sabe na próxima edição eu não conte uma das boas dos bastidores...

DIÁRIO NÃO OFICIAL DO MUNICÍPIO – DISPONIBILIZADO NAS SEXTAS-FEIRAS OU EM EDIÇÕES ESPECIAIS.

Essa é uma publicação fictícia. Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência... Às vezes, não.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

E a eficiência na aplicação dos recursos públicos?



Com os holofotes voltados para os desdobramentos da PEC 241, o Brasil foi tomado por um debate fervoroso no que se refere à quantidade de recursos que serão destinados, nos próximos anos, para algumas áreas no orçamento da União, principalmente para saúde e educação; Há os que dizem que a aprovação da PEC 241 acarretará numa diminuição dos recursos destinados a referidos setores; Já o Governo Federal afirma que, pelo contrário, poderá até mesmo ocorrer um aumento na verba destinada, a depender de algumas nuances na gestão dos recursos.

Sem dúvida, o debate é válido. Afinal, sem a destinação de recursos financeiros suficientes, fica muito complicado promover devidamente qualquer política pública, sobretudo num país de dimensões do Brasil. No entanto, vale ressaltar o fato de nos encontramos diante de um momento propício para uma maior atenção à outra vertente que anda esquecida nos debates, que é a necessidade de maior eficiência na aplicação das verbas públicas.

Hoje, podemos até chegar ao consenso de que o País ainda carece de maiores investimentos em algumas áreas. Por certo. Porém, parece inegável o fato de que, diante da carga tributária confiscante existente no Brasil - geradora de um suntuoso volume de dinheiro retirado do bolso do contribuinte e colocado à disposição do Estado - a situação do País deveria ser bem melhor e a população já deveria disfrutar de serviços públicos, pelo menos, um pouco mais eficientes.

E a explicação para a precariedade da maior parte dos serviços públicos ofertados no Brasil, mesmo os nossos governantes tendo a disposição um relevante montante de recurso, é uma só: de nada adianta ter rios de dinheiro a disposição do Governo, se a aplicação é ineficiente e boa parte da verba orçamentária escoa por um ralo de boca larga composto de várias pequenas estruturas – desde regalias concedidas a um pequeno grupo de agentes políticos, passando pela ineficiência da administração pública na hora de comprar e contratar e fechando com a maior das estruturas que forma esse ralo, que é a corrupção.

A verdade é que além de debater a necessidade de manter ou aumentar a destinação de recursos no orçamento para certas áreas, já passou da hora de a sociedade brasileira discutir e buscar meios mais eficientes de aplicação das verbas públicas e de controle dos gastos. Precisamos exigir dos nossos Governantes a realização do máximo com o gasto mínimo possível. E, além disso, precisamos também exigir maior investimento em transparência, com o desenvolvimento de ferramentas que facilitem a fiscalização da aplicação dos recursos e aperfeiçoamento daquelas já existentes.

Além de cobrarmos tudo isso do Governo, também já é hora do cidadão comum começar a fazer a sua parte de modo mais efetivo. De nada adianta exigir a manutenção ou o aumento dos recursos previstos no orçamento para uma área específica, quando não estamos dispostos nem mesmo a fiscalizar se eles serão devidamente aplicados. De nada vale exigir dos Governantes a destinação de mais verbas para educação, quando não nos ocupamos em fiscalizar sequer a ponta da estrutura governamental mais próxima de nós - por exemplo: se o recurso para manutenção da escola do nosso filho, que fica logo ali ao lado, é devidamente aplicado pela direção do órgão.

O debate acerca da atual realidade financeira do Brasil não deve se ater unicamente para a questão da quantidade de recursos disponíveis ou que virão a ser disponibilizados para certas áreas. Antes disso, parece claro, o fator primordial é uma necessária formulação de medidas que possam garantir uma maior eficiência na aplicação dos recursos. E se não buscarmos o quanto antes os meios de tornar eficiente o gasto público, se não cobrarmos mais transparência e exigirmos a criação de meios que facilitem a fiscalização da aplicação da receita, estamos fadados a viver para sempre num País que custa caro e muito pouco oferece. Sem falar que o bolso do contribuinte não é um poço sem fim.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

HOJE É DIA DE FALAR DE POLÍTICA

Hoje, 31 de dezembro de 2015, para a maioria dos brasileiros será um dia de reflexão, de realização de promessas e de definição de objetivos para o ano de 2016. Cuidar mais da saúde, arrumar um trabalho, viajar, criar um cachorro. Enfim, são variados os assuntos que costumam se tornar o centro das perspectivas de ano novo. Falta-nos, entretanto, nesses momentos de promessas e reflexões de fim de ano, realizar tratativas fundadas nos nossos deveres de cidadão, sobretudo acerca das questões políticas.

Atualmente, o Brasil é a sétima economia do mundo. É, também, um país de muitas riquezas naturais e pouco afetado por catástrofes da natureza. Certamente, esse é um bom quadro para a formação de uma nação bem desenvolvida. No entanto, vivemos hoje um caos social. Somos, nos dias atuais, uma nação de desassistidos das mais básicas políticas públicas. Não temos educação de qualidade. A saúde é lastimável. O cidadão comum não tem o mínimo de paz para andar tranquilamente nas ruas, pois vivemos um quadro de violência muito superior ao de diversos países que se encontram em conflitos armados.

Porém, enquanto o cidadão comum vive uma realidade cruel, uma horda de políticos e de agentes públicos das mais variadas instâncias dos três Poderes vive uma realidade de bonança bancada pelo tributo arrancado do bolso do contribuinte por meio de uma carga tributária absurdamente confiscatória. A verdade é que, atualmente, a maioria dos brasileiros trabalha diuturnamente e incansavelmente para, simplesmente, manter a vida nababesca de uma casta de nefastos agentes políticos do Brasil.

E o quadro narrado acima somente mudará quando o cidadão comum, entre outras providências, passar a dar maior importância às questões políticas e realizar reflexões mais refinadas, principalmente, no momento do voto. Ou o cidadão comum procurar se conscientizar, passa a cobrar de seus eleitos e deixa de votar em políticos profissionais, que estão apenas preocupados em manter-se no poder, ou continuaremos onde estamos - no fundo de um poço fedido e lamacento, e arrodeados de ratos travestidos de agentes políticos, que vivem de troca de favores entre eles e apenas servem para “roerem” as riquezas desse País.

Chegado o final de um ano duro, de muita instabilidade política e econômica, e sem que tenhamos sequer perspectiva de melhorias, é justificável que o cidadão comum deseje se vê livre de assuntos tão nebulosos quanto os que envolvem a política brasileira. Mas, diante do grave quadro que vivemos, precisamos reagir e não podemos mais deixar de lado a crise política/administrativa que assombra e afunda o Brasil atualmente, desde o Palácio do Planalto até a prefeitura do mais pacato município brasileiro, sob pena de estarmos condenados a vivermos dias cada vez piores - se é que a atual realidade pode ser ainda piorada.

 A verdade é que o cidadão comum precisa sair do atual quadro de letargia. E o ano de 2016, de eleições municipais, torna-se um bom momento para darmos início a uma limpeza no lamacento quadro de agentes políticos brasileiros. Para tanto, nos objetivos e promessas de ano novo do brasileiro, deve constar a necessidade de começar a limpeza do quadro de agentes políticos pela escolha de melhores vereadores e prefeitos. Por isso, hoje, 31 de dezembro de 2015, parece um bom momento para dedicarmos um tempinho mínimo, porém precioso, para analisarmos que tipo de Brasil nós queremos para 2016 e demais anos vindouros. E entre a promessa de perder peso e a de buscar um novo emprego, cabe incluirmos a de que começaremos a não mais tolerar o agente político profissional e corrupto.


Faço votos de que 2016 seja um excelente ano para o Brasil!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Um cheiro em versos livres...

E o cheiro preso à mente
Remexe ideias, atiça pecados.
Perfume de doçura envolvente,
Inflama o querer bem mais que abraços.

Versos livres, o único caminho
Para extravasar a vontade contida.
- Será que desejas sozinho,
Unir corpo e alma em vida?

Beleza que aos olhos fascina,
Sorriso faceiro que encanta.
Curvas de madura mulher ainda menina,
Que esconde o que no íntimo descansa.

Versos livres, o único caminho
Para extravasar a vontade contida.
- Será que relutas sozinho,
Em apagar a paixão atrevida?

O tempo, que dizem senhor do destino,
Que faça das suas e aponte o caminho a trilhar.
Que abrande a inquietação por ser desatino,
Ou inflame as tentações que nascem do olhar…

Versos livres, o único caminho
Para extravasar a vontade contida.
- Não sendo desejo que vive sozinho,
Prometa-lhe todo o amor que houver nessa vida.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Procura-se...

Procura-se...

Era o que estava escrito: “Procura-se”. A tinta fresca, o pincel ainda melado e um restante de tinta numa lata denunciavam que a expressão havia sido recentemente pintada e que, aparentemente, o letreiro ainda seria completado. Entretanto, o que nem o mais atento observador conseguiria era naquele momento descobrir o autor daquele enigmático “Procura-se”. Ninguém nas proximidades. Compondo aquele cenário, apenas alguns pedestres apressados e eu.

Passava pouco das duas da tarde. Já estava atrasado para o trabalho, confesso meio que sem remorso e com o espírito de quem anda sem paciência para rotinas maçantes. Tinha parado a caminhada rumo ao trabalho havia pouco tempo. Resolvi curtir a praça e a sombra das árvores, pra aliviar um pouco o calor. Nisto acabei me deparando com aquela cena inicialmente banal, mas que logo me tomou de curiosidade: “Procura-se”. Procura-se o quê? Quem procura? E por qual motivo?

Acompanhava com o olhar cada pessoa que caminhava em direção ao cenário e tentava adivinhar se não seria ela a autora daquele letreiro. Mal visualizava a fisionomia do caminhante e já fazia suposições do que iria ser escrito logo em seguida do “Procura-se”. Eram momentos de tensão e expectativa, num jogo de adivinhação que naquele instante servia de distração para uma tarde quente e abafada de uma segunda-feira.

Fiz diversas suposições, utilizando os mais variados critérios e os conjugando com a altura, o peso, a cor do cabelo, suposta idade, possível estado civil e time do coração. Cada candidato ou candidata que aparecia fazia com que pipocassem hipóteses. Procura-se: “trabalho”, “casa com três quartos e garagem”, “carro”, “mestrado em Física Quântica”, “namoro”, “casamento”, “cachorro”, “bicicleta”, “amante”, “aulas de balé”, “professor de esperanto”, “a repipoca da parafuseta”, caramba!

Em certo instante passo a imaginar como seria se nos fosse concedida a possibilidade de escrever num anúncio o que andamos procurando em nossas vidas. Nada de necessidades banais. Falo das necessidades da alma. Tantos não sofrem por aí por não serem ouvidos ou por não saberem falar o que sentem, não é mesmo? Sairíamos então espalhando por aí cartazes de “Procura-se”, e analisando as necessidades alheias. Funcionaria? Acho que…


Perdi-me por um instante analisando essas questões filosóficas e existenciais e não me dei conta que o autor do anúncio chegou, pegou todo seu material e retirou-se. Bem longe, já entrava num ônibus. Corri desesperadamente, pois, tenho que confessar, não me contentava a ideia de ficar sem saber o que era procurado… Não deu. O relógio já passava das quinze e trinta da tarde. Apressei o passo rumo ao trabalho, já que, pelo menos por enquanto, não passava pela cabeça a ideia de procurar um novo emprego.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O político e o menino

O político e o menino

Minha memória tem me traído. Não sei se é coisa da idade, mas, vez ou outra, é preciso considerável esforço pra lembrar o nome de conhecidos, tarefas do dia a dia e uma ou outra coisa do tipo. Já andei esquecendo até o carro na porta do banco e fui trabalhar de táxi. Pois é... Porém, mesmo sofrendo com o adultério corriqueiro de minha memória, vez por outra também me pego tendo alguns lampejos saudosistas. Coisas boas e de um tempo bom...

Com o presente clima de eleição, dia como esse, faz pouco, me peguei revivendo a campanha eleitoral de 1992. Naquele ano, advoguei para alguns partidos em alguns municípios do RN. Em especial, vagamente tenho rememorado o trabalho realizado em Governador Dix-sept Rosado para candidatura de um senhor que neste momento minha memória não ajuda a lembrar-me de seu nome. Recordo-me apenas que compartilhávamos da mesma paixão flamenguista.

Se não me falha a memória, foi um trabalho difícil. Uma campanha apertada e cheia de confusões. Mas o povo daquela terra queria libertar-se das amarras da “ditadura” vigente e foi lá e promoveu uma mudança. Uma mudança de verdade, faz-se necessário esclarecer. E Foi certamente uma das mais belas campanhas já vistas, na qual as ruas várias e várias vezes foram tomadas de esperança. E era tamanha a esperança e de cor tão intensa que se hoje falassem que ela ressecou e perdeu seu brilho eu demoraria a acreditar.

Daquele senhor lembro-me da garra e da coragem. Mesmo esguio e de aparência que parecia frágil, ele tinha força de um gigante. Dia desses, soube por ouvir dizer, que entrou pobre e saiu pobre da prefeitura, coisa hoje em dia tão comum quanto ver um elefante desfilando num jipe por aí. Pelo que falam, se ele não fez o trabalho perfeito, já que a imperfeição é inerente à condição humana, porém deixou pronto o caminho a ser seguido.

Se não é criação da minha memória tentando me pregar uma peça, recordo-me também da figura de um garotinho esticado e cabeçudo, de tenra idade, que numa das andanças lançou mão de uma música para campanha. Uma composição que não rimava lê com crê, e que obviamente não foi usada, mas que claramente denotava uma pureza infantil e deixava evidente o quanto aquela figura mirim estava fraternamente ligada a tudo que ocorria.

Não tenho mais contato com aquele senhor, infelizmente. Resta-me, vez por outra, fazer as pazes com a memória e reviver os bons momentos que dividi com ele. A única certeza que tenho é que, pelo tamanho do coração que aquele senhor possuía, hoje deve encontrar-se num lugar especial. Já quanto ao garoto esticado e cabeçudo, se não for minha memória querendo me pregar uma peça, tem dias que tenho a impressão de cruzar com ele por aí.


Autor: Dr. Aldareci Silva - Advogado