quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O político e o menino

O político e o menino

Minha memória tem me traído. Não sei se é coisa da idade, mas, vez ou outra, é preciso considerável esforço pra lembrar o nome de conhecidos, tarefas do dia a dia e uma ou outra coisa do tipo. Já andei esquecendo até o carro na porta do banco e fui trabalhar de táxi. Pois é... Porém, mesmo sofrendo com o adultério corriqueiro de minha memória, vez por outra também me pego tendo alguns lampejos saudosistas. Coisas boas e de um tempo bom...

Com o presente clima de eleição, dia como esse, faz pouco, me peguei revivendo a campanha eleitoral de 1992. Naquele ano, advoguei para alguns partidos em alguns municípios do RN. Em especial, vagamente tenho rememorado o trabalho realizado em Governador Dix-sept Rosado para candidatura de um senhor que neste momento minha memória não ajuda a lembrar-me de seu nome. Recordo-me apenas que compartilhávamos da mesma paixão flamenguista.

Se não me falha a memória, foi um trabalho difícil. Uma campanha apertada e cheia de confusões. Mas o povo daquela terra queria libertar-se das amarras da “ditadura” vigente e foi lá e promoveu uma mudança. Uma mudança de verdade, faz-se necessário esclarecer. E Foi certamente uma das mais belas campanhas já vistas, na qual as ruas várias e várias vezes foram tomadas de esperança. E era tamanha a esperança e de cor tão intensa que se hoje falassem que ela ressecou e perdeu seu brilho eu demoraria a acreditar.

Daquele senhor lembro-me da garra e da coragem. Mesmo esguio e de aparência que parecia frágil, ele tinha força de um gigante. Dia desses, soube por ouvir dizer, que entrou pobre e saiu pobre da prefeitura, coisa hoje em dia tão comum quanto ver um elefante desfilando num jipe por aí. Pelo que falam, se ele não fez o trabalho perfeito, já que a imperfeição é inerente à condição humana, porém deixou pronto o caminho a ser seguido.

Se não é criação da minha memória tentando me pregar uma peça, recordo-me também da figura de um garotinho esticado e cabeçudo, de tenra idade, que numa das andanças lançou mão de uma música para campanha. Uma composição que não rimava lê com crê, e que obviamente não foi usada, mas que claramente denotava uma pureza infantil e deixava evidente o quanto aquela figura mirim estava fraternamente ligada a tudo que ocorria.

Não tenho mais contato com aquele senhor, infelizmente. Resta-me, vez por outra, fazer as pazes com a memória e reviver os bons momentos que dividi com ele. A única certeza que tenho é que, pelo tamanho do coração que aquele senhor possuía, hoje deve encontrar-se num lugar especial. Já quanto ao garoto esticado e cabeçudo, se não for minha memória querendo me pregar uma peça, tem dias que tenho a impressão de cruzar com ele por aí.


Autor: Dr. Aldareci Silva - Advogado

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