quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

DIÁRIO NÃO OFICIAL DO MUNICÍPIO – EDIÇÃO 001 (Dia 13/01/2017)

“Mais verdadeiro que promessa de político em ano de eleição.”

Querido diário...

Ando meio cansado. O passar dos anos, que parece mais rápido dia após dia, e os desapontamentos com a politicagem praticada por alguns cidadãos da minha terra andam fazendo sentir-me um velho acabado.

Não bastasse isso, diariamente tenho me sujeitado a um silêncio agoniante, sendo que não me faltam histórias para contar. E, fique logo sabendo, não é por falta de meios para divulgação dos acontecimentos, pois até tenho outro diário, o Oficial.

Mas a verdade, meu amigo, é que o tal Oficial é de uma chatice medonha e serve apenas para divulgar burocracia. O que se passa de interessante por aqui, a realidade dos bastidores do poder municipal ou mesmo o dia a dia da cidade, nada disso sai naquelas páginas. E por lá, não posso negar, vez ou outra, publicam até algumas coisas que me envergonham...

Pois fique você sabendo que foi toda essa situação chata a motivação para a sua criação. Se no espaço considerado oficial não é divulgada a realidade, só resta a opção de realizar esse feito num meio não oficial. Assim, vamos nós aqui conversando devagarzinho, registrando apenas a verdade do que se passa de interessante nessas bandas e quem sabe, um dia, o Oficial segue o mesmo caminho, não é mesmo?

Deixe eu me apresentar...

Sou um pequeno Município, apesar de grande, situado cá pras bandas do sertão nordestino. Sou terra de gente boa, e também de alguma gente sem futuro, é verdade. Ainda tenho muitas estradas de terra batida; E já tenho alguns metros de asfalto, que me cortam de ponta a ponta, levando e trazendo riquezas e, inevitavelmente, também tristezas.

Ali mais pra baixo fica minha igrejinha, sob a guarda do meu padroeiro. Levantada na base do suor de alguns, é lá que se reúne parte dos conterrâneos em momentos de fé e alegria e, também, naqueles dias de dor. Lá meu povo se une de verdade, mesmo que de tempos em tempos. Mas é verdade também que, vez ou outra, lá é ambiente de gente que é muito santa, até descer à calçada...

Acolá mais pra cima tem o mercado público, lugar daquele meu povo que madruga na batalha diária. É lá onde muitos derramam o suor pra manter a família, diariamente. É também o metro quadrado mais disputado do município, em tempos de eleição; Momento no qual, por lá, não falta candidato e babão abraçando o povo e fazendo festa, feito mosquito em bunda de cachorro...

Bem ali, na frente do mercado, fica a pracinha principal da cidade. É o local dos primeiros flertes da maior parte dos casais formados na cidade. Por lá, tudo começa com a troca de olhares entre os rapazes e as moças, enquanto eles arrodeiam a praça, em noites do fim de semana. Tem quem fale (os mais maldosos) que, nas altas horas da madrugada, os bancos mais reservados da praça não são espaços lá de muita inocência...

Já naquele banco da praça tá o rapaz-solteiro mais velho da cidade, que tem mania de falar sozinho e, vez ou outra, recebe audiência daquele vira-lata que tá do lado dele, o buiu. Dizem que o pobre coitado fez jura de não querer mais mulher nenhuma, depois de um amor não correspondido. Já o cachorro é o terror dos casais da cidade, pois ele, de tanto ouvir o relato da desilusão amorosa do solteirão, desenvolveu a capacidade de descobrir, pelo rastro, o povo que anda pulando cerca por aí...

E por falar na sabedoria de buiu, numa coisa que essa terra é rica é em animal diferente. Aqui, tem um jumento sem dono e criado solto pela cidade, que corre atrás de donzela após identifica-las pelo cheiro; A quem diga (os maldosos, sempre eles) que o bichinho anda meio sedentário. Tem também, lá pras banda de cima, um bode que berra a hora certa quando o dono aperta o saco do pobre caprino; E tem um galo que só canta em dias pares, sem fazer confusão de data, nem mesmo quando o ano é bissexto.

Mas voltando para cidade, e deixando as histórias curiosas dos animais dessa terra para outra oportunidade, por acolá tem a farmácia, ali fica a padaria, já mais na frente tem o armazém mais surtido dessas bandas. Para aquele lado tá os Correios, bem ali a delegacia e, como não poderia de ser, bem ali, mais afastado, fica o bordel da cidade, comandado por Juju do Deputado, que merece uma edição especial do diário somente para contar o motivo do apelido.
   
Meu querido diário, é aquela coisa, mesmo sendo um lugar pequeno, de tudo um pouco encontramos por aqui, principalmente boas histórias para contar. E causos dos bastidores do poder, nem se fala, existem relatos para todos os gostos.  Aliás, quem sabe na próxima edição eu não conte uma das boas dos bastidores...

DIÁRIO NÃO OFICIAL DO MUNICÍPIO – DISPONIBILIZADO NAS SEXTAS-FEIRAS OU EM EDIÇÕES ESPECIAIS.

Essa é uma publicação fictícia. Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência... Às vezes, não.

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