Procura-se...
Era o que estava escrito: “Procura-se”. A tinta
fresca, o pincel ainda melado e um restante de tinta numa lata denunciavam que
a expressão havia sido recentemente pintada e que, aparentemente, o letreiro
ainda seria completado. Entretanto, o que nem o mais atento observador
conseguiria era naquele momento descobrir o autor daquele enigmático “Procura-se”.
Ninguém nas proximidades. Compondo aquele cenário, apenas alguns pedestres
apressados e eu.
Passava pouco das duas da tarde. Já estava atrasado
para o trabalho, confesso meio que sem remorso e com o espírito de quem anda
sem paciência para rotinas maçantes. Tinha parado a caminhada rumo ao trabalho
havia pouco tempo. Resolvi curtir a praça e a sombra das árvores, pra aliviar
um pouco o calor. Nisto acabei me deparando com aquela cena inicialmente banal,
mas que logo me tomou de curiosidade: “Procura-se”. Procura-se o quê? Quem
procura? E por qual motivo?
Acompanhava com o olhar cada pessoa que caminhava
em direção ao cenário e tentava adivinhar se não seria ela a autora daquele
letreiro. Mal visualizava a fisionomia do caminhante e já fazia suposições do
que iria ser escrito logo em seguida do “Procura-se”. Eram momentos de tensão e
expectativa, num jogo de adivinhação que naquele instante servia de distração
para uma tarde quente e abafada de uma segunda-feira.
Fiz diversas suposições, utilizando os mais variados
critérios e os conjugando com a altura, o peso, a cor do cabelo, suposta idade,
possível estado civil e time do coração. Cada candidato ou candidata que aparecia
fazia com que pipocassem hipóteses. Procura-se: “trabalho”, “casa com três
quartos e garagem”, “carro”, “mestrado em Física Quântica”, “namoro”, “casamento”,
“cachorro”, “bicicleta”, “amante”, “aulas de balé”, “professor de esperanto”, “a
repipoca da parafuseta”, caramba!
Em certo instante passo a imaginar como seria se
nos fosse concedida a possibilidade de escrever num anúncio o que andamos
procurando em nossas vidas. Nada de necessidades banais. Falo das necessidades
da alma. Tantos não sofrem por aí por não serem ouvidos ou por não saberem falar
o que sentem, não é mesmo? Sairíamos então espalhando por aí cartazes de
“Procura-se”, e analisando as necessidades alheias. Funcionaria? Acho que…
Perdi-me por um instante analisando essas questões
filosóficas e existenciais e não me dei conta que o autor do anúncio chegou,
pegou todo seu material e retirou-se. Bem longe, já entrava num ônibus. Corri
desesperadamente, pois, tenho que confessar, não me contentava a ideia de ficar
sem saber o que era procurado… Não deu. O relógio já passava das quinze e
trinta da tarde. Apressei o passo rumo ao trabalho, já que, pelo menos por
enquanto, não passava pela cabeça a ideia de procurar um novo emprego.
Nenhum comentário:
Postar um comentário